Sentia-me quase sempre triste, frustrada e profundamente insatisfeita, mas não sabia o que fazer de diferente. Procurei respostas em novas casas, cidades, empregos, roupas, sapatos, amigos e relações, mas o vazio apenas se expandia a cada nova investida.
Então acabei por concentrar a minha atenção no meu corpo físico; de certa forma, acreditava que a alimentação e o exercício físico eram as únicas partes da minha vida que conseguia controlar e que dependiam apenas de mim.
Os comentários sobre o quão magra eu estava tornaram-se nos melhores elogios que poderia receber, os quilos que perdia tornaram-se nas minhas grandes vitórias, os serões a ver “Anatomia de Grey” e a devorar bolos e batatas fritas tornaram-se na minha fonte de conforto (e culpa, e vergonha).
Ninguém sabia o que realmente se passava porque me tornara perita, desde os 11 anos, em fazer de conta que estava tudo bem, que eu estava bem, apesar de destruída por dentro.
No final de 2015, pouco antes de completar os 26 anos, a máscara caiu.
Um dia, depois de sair do escritório de advogados em que trabalhava, cheguei a casa e deixei-me simplesmente cair aos pés da minha cama. Chorei durante muito tempo, até não restar mais nada. Arranhei os meus braços magros e amarelados, sem consciência do que estava a fazer.